terça-feira, 19 de outubro de 2010

Novos resultados da produção de HQs em sala de aula

Já faz um bom tempo que não escrevo, desde agosto sem por uma única linha aqui! Mas para quem pensou que eu havia abandonado o blog ou deixado de trabalhar com histórias em quadrinhos, cometeu um grande engano. Na verdade, eu estava mais do que nunca empenhada em trabalhos nessa área, tanto na minha dissertação, pois há alguns dias terminei meu trabalho de qualificação, quanto no meu trabalho como professora, pois realizei trabalho semelhante ao desenvolvido em 2009, mas desta vez com alguns acréscimos. E, finalmente, venho agora compartilhar os frutos deste projeto.

O trabalho foi aplicado com turmas do sexto ano do ensino fundamental e o tema escolhido foi o povo hebreu. Explico: em primeiro lugar levei em consideração o fato de que muitos deles já conhecem de certa maneira o tema, por informações adquiridas nas aulas de catecismo ou na escolinha dominical, em segundo lugar  considerei a grande quantidade de material disponível na internet, de maneira que facilitaria a pesquisa dos alunos ao oferecer ampla diversidade, e em terceiro, observei que geralmente os alunos de sétimo ano tem uma grande dificuldade em entender a formaçãos das religiões monoteístas, portanto, pensei que essa experiência serviria como uma base para o ano seguinte.

Comecei pela exposição oral do conteúdo, tanto para oferecer aos alunos um primeiro conhecimento do tema a ser abordado como para observar o que eles já sabiam sobre o conteúdo, porque penso que a exposição oral não é apenas um trabalho de repasse do conhecimento do professor para o aluno, mas muito além disso é um importante instrumento de sondagem. Além de expor o conteúdo e verificar o que eles já conheciam, expus o que seria precisamente o trabalho final, para que desde o início eles direcionassem a pesquisa para a produção de determinada linguagem.

Feito isso, o segundo passo foi levá-los, divididos em grupos de três componentes, para realizar uma pesquisa na sala de informética, para que eles identificassem todo o material necessário para a construção da história em quadrinhos, para tal, foi seguido um roteiro elaborado anteriormente na sala de aula junto com os alunos.

O próximo passo foi reunir referências visuais, obtidas através da  exibição da animação O Príncipe do Egito, produzida pelos estúdios Dream Works em 1998.



Em seguida, na sala de aula, foram feitas as comparações entre o material pesquisado e as referências obtidas por meio da animação. Feito isso, fiz uma revisão sobre a linguagem dos quadrinhos e os grupos partiram para a elaboração dos mesmos. Pedi que escolhessem apenas algumas passagens, as que tivessem achado mais interessantes, porque não seria possível resumir toda a história dos hebreus em poucas aulas. 

O mais interessante é que todos os trabalhos vistos em conjunto compõem uma sequência da história dos hebreus, mesmo tendo dado a liberdade para que escolhesses a passagem que quisessem, é muito bom verificar a variedade de passagens representadas pelos alunos.

E aqui estão alguns resultados:






quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Alguns resultados


É muito comum me perguntarem se tenho algo produzido por meus alunos em sala de aula que esteja relacionado aos quadrinhos, como isso já é uma cobrança antiga resolvi postar aqui uma experiência que tive no ano de 2009, meu primeiro ano de trabalho na EMEF Leônidas Santiago, no Rangel.
Eu havia acabado de ser nomeada, estava muito empolgada para começar logo pois ensinar na rede pública era o que o eu mais queria, mas como a escola estava em reforma o início das aulas foi adiado e comecei a trabalhar apenas no mês de abril. As condições de trabalho também foram difíceis porque a reforma prosseguia e tive que trabalhar com duas turmas em uma única sala, eram cerca de 55 alunos!!!
Porém, mesmo diante de toda adversidade, consegui realizar uma atividade que nas condições de trabalho da época posso considerar um sucesso. Consegui estimular alguns alunos a reproduzirem em quadrinhos um assunto visto em sala.
O tema escolhido foram "Os trezentos de Esparta", em primeiro lugar por causa do filme, pois cerca de 90% da turma já tinha assistido, e em segundo lugar porque tumas de sexto ano, por conta da faixa etária, adoram histórias com aventuras, logo pensei que seria mais interessante tentar representar algo que possibilitasse uma larga utilização da imaginação dos meus pequenos.
O primeiro passo foi uma aula sobre o assunto, e aí tive que usar e abusar da narração para que a história parecesse muito interessante. Antes que alguns historiadores mais radicais se levantem contra mim eu assumo: EU DEFENDO ATÉ A MORTE A IMPORTÂNCIA DE UMA BOA NARRAÇÃO!!!
Em seguida os levei para uma pesquisa sobre o assunto na sala de informática, os deixei livres para escolher os detalhes que mais lhes interessavam.
O terceiro passo foi uma aula demosnstrando a linguaguem dos quadrinhos, o significado de cada balão, os recursos que eler poderiam utilizar, enfim, ampliei o leque de opções para o trabalho.
A última etapa foi o fazer, que a princípio confesso que cheguei a duvidar, mas depois ao ver os resultados fiquei muito feliz por ter verificado na prática a eficácia desse tipo de abordagem. Acima está um dos frutos que colhi.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A produção do aluno

Uma das coisas mais interessantes, entre todas as que já existem, no trabalho com histórias em quadrinhos na sala de aula é a possiblidade de que o próprio aluno produza sua história em quadrinhos, o que tanto facilita a assimilação do conteúdo como o estimula a participar do trabalho em sala de aula, pois ele sai da condição de apenas receptor e passa a assumir a de produtor do conhecimento também.
Porém, muitos podem acabar se perguntando sobre como os erros do aluno são corrigidos em um trabalho como este. E eu respondo de acordo com a minha forma de trabalho, que não é padrão mas sim um experimento, os erros não são corrigidos, são apontados. Como assim?
De uma forma bem simples, é preciso antes de mais nada deixar bem claro que o resultado do que o aluno produz nesta proposta de trabalho é apenas mais uma visão de um mesmo acontecimento (lembram das aulas de Introdução aos Estudos de História???).
A partir do momento em que se inicia um trabalho tendo essa idéia em mente, é possível verificar a produção de materiais surpreendentes, pois sabemos muito bem que é extremamente ultrapassada a idéia de que o aluno é uma folha em branco na qual o professor "grava" seus conhecimentos. Antes de ser aluno, ele é um adolescente, ou criança, que está em plena época do bombardemanto das informações, que lida com as novas tecnologias, que vê, ou até mesmo veicula, um vídeo no youtube, que tecla no messenger ao mesmo tempo em que ouve o o novo albúm da sua banda favorita (que nem sequer ainda foi lançado, mas que ele conseguiu através de um site de compartilhamento) e ainda espera terminar o download daquele filme que ele tanto esperou para ver.
Esse é público que temos agora, formado por pessoas capazes de produzir, dotados de potencialidades que necessitam ser descobertas. Não é uma tarefa fácil, confesso. Mas quem disse que educar é simples?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quadrinhos na sala de aula: uma prática possível, mas não solitária!!!

Sempre que eu converso com outras pessoas sobre a minha pesquisa é muito comum a seguinte pergunta: mas como você trabalha os conteúdos de história com histórias em quadrinhos?
Gente, nesse tempo em que venho atuando na área da educação aprendi que não existe uma fórmula pronta para o trabalho em sala de aula. Tudo sempre é uma experiência. E ainda tem gente que diz que historiador não é cientista...
Porém, ao contrário de materiais químicos, não podemos prever a reação dos alunos às nossas estratégias, às vezes dá certo, outras não. E o que faço? Bem, tento outra abordagem! Afinal, se quero que minha experiência dê resultados eu tenho que seguir tentando não é?
Não quero desencorajar ninguém, mas através da minha própria experiência quero compartilhar a seguinte informação que considero muito útil: a prática com novas linguagens na sala de aula nunca deve ser um trabalho isolado! Se você trabalha com cinema, pode aliar música, poesia, fotografia ou qualquer outro suporte.
Dito isto, acho que devo ter deixado bem claro que o trabalho com novas linguagens pede o conhecimento delas. Dessa maneira, como facilitadores do conhecimento e profissionais comprometidos com a constante adaptação das práticas pedagógicas devemos estar atualizados com toda essa invasão de informação que vivemos atualmente.
Por isso defendo sempre que experimente, e não apenas isso, vá além, misture, inove, crie, pois a escola é uma instituição cheia de vida, e como tal está em constante transformação.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

As angústias em realizar um estudo apaixonado

A possibilidade de trabalhar com novas linguagens é sempre um caminho apaixonante, mas assim como toda grande paixão sempre vem acompanhada de alguns tormentos, nesse caso não poderia ser diferente.
Sempre gostei de histórias em quadrinhos, mas foi no início da minha vida adulta, e também no início da minha vida acadêmica, que as percebi como uma forma de arte, e foi nesse momento que a paixão por esse tipo de linguagem me atingiu fortemente e não me abandonou até hoje!
Encantada a princípio, eu não tinha a dimensão certa dos sacrifícios que eu teria que fazer para alimentar essa paixão, e me atirei de cabeça nessa relação sem pensar nas consequências posteriores.
Depois de algum tempo, percebi que essa relação não seria fácil, porque não havia muitas bases sólidas para apoiá-la, percebi que eu mesma teria que buscar em vários lugares o material necessário para compor uma base firme para esse romance.
Mesmo assim, ainda tivemos muitos problemas de relacionamento, porque muitas vezes o objeto da minha paixão não se apresentava muito claro, outras vezes não estava disponível, mas muito apaixonada segui buscando-o, porque apenas ele me realizaria.
Além dos problemas próprios da relação tive que enfrentar os comentários dos "de fora", que sempre falavam coisas do tipo "mas como você foi se interessar por algo assim?" ou "que futuro pode ter uma coisa dessas?", mas mesmo assim minha paixão não diminuiu nem um pouco, permaneceu forte e me manteve com os olhos fixos no objeto da minha paixão.
E como todas as paixões que conseguem sobreviver ao teste do tempo, a minha se transformou em amor, uma relação mais madura, que enxerga os defeitos e limitações dessa relação, mas que mesmo assim reserva forças para persistir, mesmo quando falta tempo, mesmo quando falta inspiração. Porque algo que realmente vale a pena nunca é fácil, e só quando empregamos um sentimento muito forte no que fazemos conseguimos superar todas as angústias que a rotina possa trazer e realizar algo bonito e prazeroso.

domingo, 28 de março de 2010

Tudo parece bem melhor antes!

Avançando na minha pesquisa sobre a revista Chiclete com Banana li um livro bem interessante "Fantasias e cotidiano nas histórias em quadinhos", do Nadilson Manoel da Silva, trata-se da sua dissertação de mestrado. Nessa leitura não pude evitar que um certo sentimento me invadisse, o de que tudo parecia bem melhor antes.
Antes que inúmeras críticas caiam em cima de mim, deixo claro que a produção nacional de quadrinhos atualmente tem atingido bons números e muito do material é de qualidade, mas o que tenho sentido falta é do espírito crítico presente na Chiclete.
Em toda a sua produção, fica evidente a insatisfação de Angeli perante o cenário que observava. Também percebi a representação das tribos urbanas, que surgiam no período da publicação da revista.
Hoje a tribo foi substituída pelo indivíduo e o contato pessoal pelo meio eletrônico.
Talvez eu tenha essa situação porque durante a adolescência produzi fanzines, participando de certa forma do "espírito da coisa" das publicações alternativas, e hoje me entristeço vendo que o movimento tal qual era antes perdeu sua força e expressividade. Não nego que eles migraram para outro suporte, a internet, mas essa mudança não foi apenas no espaço onde se expressa, afetou também sua estrutura, e discutir isso não é minha intenção agora.
Posso até parecer retrógrada, mas não tenho medo de confessar que sinto falta sim de como eram feitas as publicações antes, e sinto que essa sensação aumenta cada vez que se estreita minha relação com a fonte da minha pesquisa.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pra começo de conversa...

Todos os que já desenvolveram, ou desenvolvem, uma pesquisa acadêmica sabem o quanto vicia a linguagem específica utilizada em trabalhos assim. São tantas normas a seguir, as citações no local correto, as palavras rebuscadas, que acabamos nos vendo presos a esse tipo de escrita e não conseguimos produzir nada que fuja a esse "padrão de qualidade universitário".
Minha intenção aqui é exercitar minha informalidade (até mesmo para não perdê-la!) tratando de um assunto que já há um bom tempo faz parte da minha vida: a análise de histórias em quadrinhos.
Presente na minha vida desde as primeiras leituras, esse tipo de linguagem foi, com o passar do tempo, ganhado mais espaço e alcançou minha vida acadêmica, local onde agora se encontra e me oferece um amplo horizonte de pesquisa que não vejo a possibilidade de abandonar, e talvez não veja nunca!
Muitas vezes, e injustamente, as histórias em quadrinhos são tratadas como uma linguagem exclusivamente voltada para o público infantil, o que é um grande equívoco. Mas felizmente, de algus anos pra cá, essa situação tem mudado. É impressionante, e ao mesmo tempo me alegra muito, a proporção de trabalhos acadêmicos sobre histórias em quadrinhos nas mais diversas áreas. Todavia, é necessário lembrar que a área que mais concentra estudos desse tipo é a de Comunicação Social.
O crescimento de produções cinematográficas baseadas em histórias em quadrinhos também tem contribuído muito para a divulgação das mesmas. Ao voltar seus holofotes para os quadrinhos, a indústria cinematográfica demonstrou todas as possibilidades existentes nessa linguagem. E para a grande alegria de fãs, assim como eu, essas produções não ficaram restritas aos já famosos super-heróis (como Homem-Aranha, Batman, Superman, etc) mas alcançaram quadrinhos conhecidos apenas pelos aficcionados por essa linguagem em produções como From Hell e Road to Perdition, e ainda tantas outras que não citei aqui, que sendo extremamente fiéis ou mesmo fugindo um pouco do original, serviram para mostrar que não se fazem histórias em quadrinhos apenas com Kriptonita e capas, mas que essas histórias podem partir das idéias mais simples, se basearem em temas comuns e, mesmo assim, serem narrativas interessantes e em alguns casos com muita profundidade.
Foi essa abertura que me animou a iniciar meus estudos sobre as histórias em quadrinhos. Inicialmente me dediquei a história das histórias em quadrinhos, para assim conhecer ainda mais sobre esse tema que hoje me envolve completamente. E já a partir daí pude perceber qual caminho que eu utilizaria para trabalhá-las na minha área de atuação, a História, que são os debates sobre Cultura Histórica. Esse conceito é um tanto quanto complicado de explicar foras dos termos acadêmicos, entretanto, como esse é meu desafio aqui vou tentar "trocar em miúdos". O exemplo mais simplificado do que seria Cultura Histórica é o trabalhado por Elio Chaves Flores de que se trataria de uma "intersecção" entre um saber profissional e o não-profissional (este produzido por escritores, cartunistas, jornalistas, etc). Esse saber não-profissional estaria carregado com as marcas do período em que foi produzido, representando a visão do seu autor, ou autores, sobre o contexto em que estavam inseridos, bem como contribuindo para a formação de opinião.
Dessa maneira, meu trabalho com histórias em quadrinhos é buscar compreender como o contexto em que as mesmas foram produzidas aparecem entre seus quadros e balões bem como sua contribuição para a constituição de uma determinada imagem do período. É a aplicação da "intersecção" mencionada acima.
Como uma toda pesquisadora que se preze, sempre que leio alguma hq é impossível não tentar analisá-la, isso já é um ato automático. Assim, alguns posts futuros poderão fugir um pouco da minha atual pesquisa, que se concentra na revista Chiclete com Banana, mas não fugirão do meu objetivo que dá nome ao blog "historiar as hqs", perceber a carga de historicidade presente nelas e também, como não poderia deixar de lado minha outra face, a de professora, perceber aa possibilidades que oferecem para o ensino de História.
Bom, acredito que já deixei um pouco mais claras as minhas intenções, que são as melhores possíveis, e espero poder não apenas expor como também trocar informações sobre a pesquisa de histórias em quadrinhos. Até a próxima!