segunda-feira, 16 de maio de 2011

Como os Beats entraram na minha vida


Um dos maiores erros de quem está em processo de finalização de uma dissertação é começar a pensar em temas para uma tese. Mas manter o foco é uma tarefa difícil, diria até quase impossível, pois são muitas as leituras feitas durante a elaboração de uma dissertação, logo, como todo ser pensante, as ideias começam a saltar e já começamos a planejar o próximo passo antes mesmo de concluir este primeiro.

Comigo, tudo começou na qualificação, quando a banca examinadora me recomendou que aprofundasse o debate sobre contracultura. Depois de ler alguns artigos sobre o tema fui direto na fonte, li The Making Of  a Counter Culture, de Theodore Roszak, o autor que criou o termo contracultura. Desde as primeiras páginas o autor me seduziu, especialmente com a seguinte afirmação no primeiro capítulo:

Para o bem ou para o mal, a maior parte do que atualmente ocorre de novo, desafiante e atraente, na política, na educação, nas artes e nas relações sociais (amor, corte sentimental, família, comunidade) é criação de jovens que se mostram profundamente, até mesmo fanaticamente alienados da geração de seus pais, ou de pessoas que se dirigem primordialmente aos jovens.”
(ROSZAK, 1972, p.15)

Sempre me senti atraída por movimentos culturais da juventude,movimentos de contestação, ruptura dos padrões. Lembro de ainda no Ensino Médio ter lido repetidas vezes livros sobre estes temas. E na pós-graduação, a possibilidade de trabalhar com histórias em quadrinhos contraculturais me apaixona. Me aprofundando na leitura de Roszak, conheci melhor os beats. Havia feito algumas leituras antes sobre este movimento, mas com este autor, compreendi o movimento com um olhar mais diferenciado, e isso despertou ainda mais minha curiosidade.


Porém, o estopim que fez explodir em mim essa ânsia pela literatura beat, foi a leitura da Graphic Novel Os Beats. Em um ritmo que se assemelha muito ao jornalismo em quadrinhos de Joe Sacco, esta obra me permitiu conhecer mais sobre Jack Kerouack, Allen Ginsberg e William Borroughs, grandes nomes daquela que ficou conhecida como geração beat, assim como também fui apresentada a outros autores cuja obra ainda eu ainda desconhecia.

O desejo destes autores em criar uma arte livre de amarras, seu antiacademicismo (e que hoje é objeto de estudo da academia!) e o estilo de vida que levavam me impressionaram, e confesso que entre um parágrafo e outro da minha pesquisa atual, sempre encaixo algo deste tema para uma pesquisa futura. 




Não é a melhor receita para realizar uma pesquisa acadêmica, pois recomenda-se sempre fechar um tema para ingressar em outro, todavia, para uma pesquisadora da contracultura seguir as regras ao pé da letra seria muito contraditório não?! Além disso, sou uma pessoa movida pela paixão, os que me conhecem sabem muito bem disso, e os que ainda não me conhecem, podem perceber essa minha característica pelos meus textos e comentários. E quando me apaixono, mergulho a fundo no tema, me envolvo por completo, e apesar de na escrita acadêmica sempre existir a recomendação de dosar as paixões, eu prefiro ficar com uma frase do maravilhoso filme argentino El Secreto de Sus Ojos, “Sólo hay una cosa que un tipo no puede cambiar. No puede cambiar de PASIÓN”.