sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Quando vi o mangá Sunadokei - O Relógio de Areia pela primeira vez pensei: mais um shoujo, deve ser divertido. Como leitora antiga desse estilo de quadrinhos, um dos primeiros a entrar na minha coleção, comprei o primeiro número em nome dos velhos tempos, como uma distração, sem intenção de levar muito a sério a leitura. Desde a primeira página a história me prendeu de uma forma que eu não esperava, e do mero entretenimento que estava buscando comecei a traçar reflexões sobre a história e sobre minha própria vida.

O mangá de Hinako Ashihara conta a história de Ann Wekusa, uma adolescente que, após o divórcio dos pais, se muda com a mãe para a aldeia natal da mesma.  Após um processo um tanto quanto complicado de adaptação a garota, que antes vivia em Tóquio, passa a gostar do local e estabelece uma amizade com  o garoto Daigo Kitamura e com o casal de irmãos Fuji e Shiika Tsukishima.

A história não segue um ritmo linear e os fatos dão verdadeiros saltos, sempre emoldurados pelas estações do ano que marcam os sentimentos e sensações dos personagens, como por exemplo, a paixão que explode num verão, com todo seu calor e força, ou a separação em um inverno frio, triste, contemplativo. Ouso dizer que Sunadokei, muito mais do que a história de Ann e seus amigos, é uma história sobre o tempo e o que ele faz com as pessoas (ou elas com ele!). O tom nostálgico e as idas e vindas da história chamaram a minha atenção para os meandros da memória, o que nela guardamos e, talvez até mais importante, como o fazemos. 

O relógio da areia do título é uma constante na história, colocando mais uma vez em evidência o personagem mestre da história: o tempo. Tomando emprestada uma frase da canção de Caetano Veloso, ele é o "compositor de destinos", e no caso dos quarteto de amigos ele opera com a maior maestria diversos tons e ritmos, levando os personagens a reflexões e mudanças profundas em suas vidas, tal qual na nossa própria vida. A areia sempre escoando, representando o passado que não volta, o presente que está em movimento e o porvir desconhecido, além da triste consciência de que a areia chegará ao fim.

 Leitura mais que recomendada!

AVISO AOS NAVEGANTES:

MANGÁ: palavra utilizada para designar as histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês.

SHOUJO: é o termo usado para se referir a mangás para garotas, apesar de poder interessar também a qualquer gênero ou faixa etária.