terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pra começo de conversa...

Todos os que já desenvolveram, ou desenvolvem, uma pesquisa acadêmica sabem o quanto vicia a linguagem específica utilizada em trabalhos assim. São tantas normas a seguir, as citações no local correto, as palavras rebuscadas, que acabamos nos vendo presos a esse tipo de escrita e não conseguimos produzir nada que fuja a esse "padrão de qualidade universitário".
Minha intenção aqui é exercitar minha informalidade (até mesmo para não perdê-la!) tratando de um assunto que já há um bom tempo faz parte da minha vida: a análise de histórias em quadrinhos.
Presente na minha vida desde as primeiras leituras, esse tipo de linguagem foi, com o passar do tempo, ganhado mais espaço e alcançou minha vida acadêmica, local onde agora se encontra e me oferece um amplo horizonte de pesquisa que não vejo a possibilidade de abandonar, e talvez não veja nunca!
Muitas vezes, e injustamente, as histórias em quadrinhos são tratadas como uma linguagem exclusivamente voltada para o público infantil, o que é um grande equívoco. Mas felizmente, de algus anos pra cá, essa situação tem mudado. É impressionante, e ao mesmo tempo me alegra muito, a proporção de trabalhos acadêmicos sobre histórias em quadrinhos nas mais diversas áreas. Todavia, é necessário lembrar que a área que mais concentra estudos desse tipo é a de Comunicação Social.
O crescimento de produções cinematográficas baseadas em histórias em quadrinhos também tem contribuído muito para a divulgação das mesmas. Ao voltar seus holofotes para os quadrinhos, a indústria cinematográfica demonstrou todas as possibilidades existentes nessa linguagem. E para a grande alegria de fãs, assim como eu, essas produções não ficaram restritas aos já famosos super-heróis (como Homem-Aranha, Batman, Superman, etc) mas alcançaram quadrinhos conhecidos apenas pelos aficcionados por essa linguagem em produções como From Hell e Road to Perdition, e ainda tantas outras que não citei aqui, que sendo extremamente fiéis ou mesmo fugindo um pouco do original, serviram para mostrar que não se fazem histórias em quadrinhos apenas com Kriptonita e capas, mas que essas histórias podem partir das idéias mais simples, se basearem em temas comuns e, mesmo assim, serem narrativas interessantes e em alguns casos com muita profundidade.
Foi essa abertura que me animou a iniciar meus estudos sobre as histórias em quadrinhos. Inicialmente me dediquei a história das histórias em quadrinhos, para assim conhecer ainda mais sobre esse tema que hoje me envolve completamente. E já a partir daí pude perceber qual caminho que eu utilizaria para trabalhá-las na minha área de atuação, a História, que são os debates sobre Cultura Histórica. Esse conceito é um tanto quanto complicado de explicar foras dos termos acadêmicos, entretanto, como esse é meu desafio aqui vou tentar "trocar em miúdos". O exemplo mais simplificado do que seria Cultura Histórica é o trabalhado por Elio Chaves Flores de que se trataria de uma "intersecção" entre um saber profissional e o não-profissional (este produzido por escritores, cartunistas, jornalistas, etc). Esse saber não-profissional estaria carregado com as marcas do período em que foi produzido, representando a visão do seu autor, ou autores, sobre o contexto em que estavam inseridos, bem como contribuindo para a formação de opinião.
Dessa maneira, meu trabalho com histórias em quadrinhos é buscar compreender como o contexto em que as mesmas foram produzidas aparecem entre seus quadros e balões bem como sua contribuição para a constituição de uma determinada imagem do período. É a aplicação da "intersecção" mencionada acima.
Como uma toda pesquisadora que se preze, sempre que leio alguma hq é impossível não tentar analisá-la, isso já é um ato automático. Assim, alguns posts futuros poderão fugir um pouco da minha atual pesquisa, que se concentra na revista Chiclete com Banana, mas não fugirão do meu objetivo que dá nome ao blog "historiar as hqs", perceber a carga de historicidade presente nelas e também, como não poderia deixar de lado minha outra face, a de professora, perceber aa possibilidades que oferecem para o ensino de História.
Bom, acredito que já deixei um pouco mais claras as minhas intenções, que são as melhores possíveis, e espero poder não apenas expor como também trocar informações sobre a pesquisa de histórias em quadrinhos. Até a próxima!

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